GICHIN FUNAKOSHI

O Pai do Karatê Moderno

A história do Mestre Gichin Funakoshi se confunde com a própria história do Karate, por isso a ele é creditado o título de “Pai do Karate Moderno”, devido aos seus esforços em divulgar essa arte para o mundo e torná-la acessível a todos.

Funakoshi nasceu em Shuri, Okinawa, no ano de 1868, mesmo ano da Restauração Meiji. Era filho único e por ter nascido prematuro, tinha uma saúde frágil. Logo após o seu nascimento fora levado para a casa dos seus avós maternos, por quem foi educado e aprendeu poesias clássicas chinesas. Na escola primária, fez amizade com o filho do grande mestre de To-de, Yasutuna Azato. Foi em 1880, com apoio de seu médico e recomendação de seu avô, que Funakoshi começou a praticar as artes marciais com o pai de seu amigo.

Como na época a prática de artkyokai.com.brkyokai.com.brkyokai.com.bres marciais era proibida em Okinawa, os treinos eram realizados à noite, no quintal da casa do Mestre Azato. Lá, ele aprendia a socar, chutar, e mover-se conforme os métodos utilizados. O treinamento era muito rigoroso. Mestre Azato tinha uma filosofia de treinamento que se chamava “Hito Kata San Nen”, ou seja, “um Kata em três anos”. Funakoshi estudava cada Kata a fundo, e então, quando autorizado pelo seu mestre, seguia para o próximo…

Enquanto praticava no quintal de Azato com outros jovens, outro gigante do Karate, Mestre Itosu, amigo de Azato, aparecia e observava-os fazendo Kata, tecendo comentários sobre suas técnicas. Era uma rotina dura que terminava sempre de madrugada sob a disciplina rígida do mestre Azato, do qual o melhor elogio se limitava a uma única palavra: “Bom!”. Após os treinos, já quase ao amanhecer, Azato falava sobre a essência do Karate.

Mestres

Após vários anos, a prática do Karate deu grande contribuição para sua saúde, treinava cada vez mais e com mais mestres, tais como: Yasutsune Itosu, Sokon Matsumura, Kanryo Higaonna, Kiyuna, Toono (originário de Naha) e Niigaki. Ele gostava muito do Karate, mas como não pensava que pudesse fazer dele uma profissão, inscreveu-se e foi aceito como professor de uma escola primária, em 1888. Aproveitava cada momento livre para treinar. Como professor, Funakoshi persuadiu o Governo de Okinawa, a incluir o karatê no currículo educacional escolar. Deu aula por mais de trinta anos sem nunca faltar por doença.


To-de Okinawa

Em 1902, liderou uma demonstração de To-de (Okinawa-te) perante Shintaro Ogawa, comissário escolar, que ficou tão entusiasmado com a postura de educador de Funakoshi, que escreveu um relatório ao Ministério da Educação elogiando as virtudes da arte, contribuindo para o reforço do ensino da disciplina nos liceus da região. Foi quando o treinamento de Karate passou a ser oficialmente autorizado nas escolas. Até então o Karate só era praticado atrás de portas fechadas, mas isso não significava que fôsse um “segredo”. Contra os pedidos de muitos dos mestres mais antigos de Karate, que eram a favor de manter tudo em segredo, Funakoshi trouxe o Karate, com a ajuda de Itosu, até o sistema de escolas públicas. Logo, as crianças estavam aprendendo Kata como parte das aulas de Educação Física. A redescoberta da herança étnica em Okinawa era moda, então as aulas de Karate em Okinawa eram vistas como uma coisa legal.

Em 1906, morreu um dos seus grandes Mestres – Yasutsune Azato. No mesmo ano, Gichin Funakoshi organizou a primeira exibição pública de To-de em Okinawa. Nasceu o seu terceiro filho, Yoshitaka (ou Gigo).

Em 1912, militares da Marinha Imperial Japonesa foram mandados a Okinawa para aprender To-de (Okinawa-te) e, treinaram sob a orientação de Gichin Funakoshi. Quando retornavam ao Japão, comentavam sobre o Karate e este passou a ser conhecido em Tokyo.


Alunos no treino

Em 1913, Gichin Funakoshi organizou uma equipe de demonstrações de To-de (Okinawa-te) que, nos dois anos seguintes, realizaria centenas de exibições perante milhares de espectadores por todo o território de Okinawa. Integraram este grupo personalidades que se tornariam famosas no panorama do Karate, tais como: Choki Motobu, Chotoku Kyan e Kenua Mabuni. Em 1915, morreu o segundo principal Mestre de Funakoshi – Yasutsune Itosu. Em 1917, no Botoku-den de Kyoto efetuou-se a primeira demonstração de To-de (Okinawa-te) fora de Okinawa e foi liderada por Gichin Funakoshi.

Em 1921, com a participação de Chojun Miyagi, Funakoshi fez uma demonstração de To-de (Okinawa-te) para o príncipe herdeiro Hirohito, no Castelo de Shuri. No mesmo ano, fundou e passou a presidir a Shobukai de Okinawa (Associação para a Promoção do Espírito das Artes Marciais de Okinawa). Em conseqüência, resignou-se à sua profissão de professor.


Treinamento em Shuri

Em 1922, depois de uma apresentação pública de diversas artes marciais no Japão, Primeira Exibição Atlética Nacional, Funakoshi foi escolhido pelos diversos peritos de Okinawa, para liderar a demonstração, solicitou ao seu discípulo Shinken Gima que demonstrasse o kata Naihanchi (Tekki) e, foi convidado por Jigoro Kano (o fundador do Judo e presidente do Instituto Kodokan) a fazer uma apresentação de Kodokan. Acabou adiando mais uma vez seu retorno à Okinawa atendendo a outros pedidos de ensinar sua arte. Percebeu, então, que se ele quisesse ver o Karate propagado por todo o Japão ele mesmo teria que fazê-lo. Por isso, resolveu ficar em Tokyo até que sua missão fosse cumprida. Nesta ocasião, Funakoshi fabricou com suas próprias mãos, para si e para o seu discípulo, os primeiros Karate-gi, inspirados no Judo-gi. Foi nesse ano que teve seu primeiro artigo publicado fora de Okinawa, tendo em seguida, seu primeiro livro editado: Ryu-kyu Kempo: To-de, um tratado nos propósitos e prática do Karate. Na introdução daquele livro ele já dizia que “…a pena e a espada são inseparáveis como duas rodas de uma carroça”. Tendo ficado conhecido por sua arte, foi procurado por Hironori Ohtsuka, então experiente praticante de Ju-jutsu, para ser seu orientador.


Funakoshi , Gigo e Alunos, 1922

No Japão, Funakoshi foi ajudado por Jigoro Kano, o homem que reuniu tantos estilos diferentes de Ju Jutsu para fundar o Judo. Kano tornou-se amigo íntimo de Funakoshi e, sem sua ajuda, nunca teria havido Karate no Japão. Kano o introduziu às pessoas certas, levou-o às festas certas, caminhou com ele através dos círculos sociais da elite japonesa. Mais tarde, naquele ano, as classes mais altas dos japoneses se convenceram do valor do treinamento do Karate.

Funakoshi fundou um Dojo de Karate num dormitório para estudantes de Okinawa, em Meisei Juku. Ele trabalhou como jardineiro, zelador e faxineiro para poder se alimentar enquanto ensinava Karate à noite. Em 1923 as instalações do Meisei Juko, onde Gichin Funakoshi residia, trabalhava e lecionava, foram destruídas por um enorme terremoto, ele perdeu as placas de seu livro e alguns de seus alunos, que morreram queimados. O livro fez tanto sucesso que foi revisado e reeditado quatro anos após o seu lançamento, com o título alterado para: “Rentan Goshin Karate Jutsu”.

Sabendo dessas dificuldades de Funakoshi, Hakudo (Hiromichi) Nakayama (o fundador do moderno Iai-do) ofereceu-lhe os horários livres do seu dojo de kendo, situado em Kyobashi, Tóquio, para que ele pudesse continuar suas aulas. Adotou um esquema de graduações (kyu, dan) semelhante ao do Kodokan. Todos os karatecas usavam agora o Karate-gi branco (semelhante ao judo-gi, mas mais ligeiro) e os dan’s passaram a usar faixa preta.

Em 1925, Funakoshi começou a pegar alunos dos vários colégios e universidades na área Metropolitana de Tokyo e, nos anos seguintes, esses alunos passaram a ensinar Karate a estudantes destas escolas. No início dos anos 30, começaram a surgir os clubes universitários de To-de (Okinawa-te): Keiho (primeiro a ser fundado), Takushoku, Chuo, Shodai (depois chamado Hitotsubashi), Waseda, Hosei, Gakushuin, Nihon e Meiji. Dentre os inúmeros discípulos de Funakoshi, destacaram-se dois nomes: Shigeru Egami e Masatoshi Nakayama. Também teve os primeiros contactos com Morihei Ueshiba acerca do Budo.


Gishin no treino

Como resultado, o Karate começou a se espalhar por Tokyo. No início da década de 30 haviam clubes de Karate em cada universidade de prestígio de Tokyo. O Japão estava fazendo uma Guerra de Colonização na Bacia do Pacífico. Eles invadiram e conquistaram a Coréia, Manchúria, China, Vietnã, Polinésia além de outras áreas. Jovens a ponto de irem para a guerra vinham a Funakoshi para aprender a lutar, assim eles poderiam sobreviver ao recrutamento nas Forças Armadas Japonesas. O seu número de alunos aumentou bastante.

Em 1933, Funakoshi desenvolveu exercícios básicos para prática das técnicas em duplas, passou a dar mais ênfase à prática do combate no Karate, tanto o ataque de cinco passos (Gohon Kumite) como o de um (Ippon Kumite) foram usados, criando o Kihon Ippon Kumite. Em 1934, um método de praticar esses ataques e defesas com colegas de um modo levemente mais irrestrito, semi-livre (Ju Ippon Kumite) foi adicionado ao treinamento.


Gishin e Shimoda

Com a morte de Takeshi Shimoda, seu mais talentoso estudante, Gichin Funakoshi nomeou como principal assistente, seu filho Gigo Funakoshi. Hironori Ohtsuka abandonou o grupo de Funakoshi, abriu um dojo em Tóquio e propôs uma prática incorporando exercícios de combate e técnicas de Ju-jutsu, constituíndo uma alternativa ao método de Gichin Funakoshi. Gerou-se a primeira cisão na prática do Karate, vários grupos universitários aderiram ao método de Ohtsuka, que em breve foi denominado Wado-ryu.

Em 1935, um estudo de métodos de luta livre (Ju Kumite) com oponentes finalmente tinha começado. Até então, todo Karate treinado em Okinawa era composto basicamente de Kata. Os alunos poderiam experimentar as técnicas dos Kata uns com os outros sem causar danos sérios. Nessa época, Kichinosuke Saigoum, político e um dos mais antigos alunos de Funakoshi, criou um comitê que se propunha à construção do primeiro dojo de karate no Japão. Associação Shoto (Shotokai).

Gishin

No ano de 1936, Gichin Funakoshi publicou a sua obra fundamental “Karate-do Kyohan” (conhecida internacionalmente como “O Texto do Mestre”). Nessa obra, visando popularizar mais a arte no Japão, ele propôs oficialmente a modificação do Kanji, o caracter “Kara” significava “China”, e o caracter “Te” significava “Mão”, uma vez que ambos os Kanji podiam ser pronunciados “Kara”, por utilizar o mesmo símbolo, a pronúncia continuava inalterada. Karate deixou, então, de significar “mãos chinesas” e passou a ser conhecido como o “caminho das mãos vazias”. Além disso, Funakoshi defendia que o termo “Mãos Vazias” seria o mais apropriado, pois representava, não só o fato de o Karate ser um método de defesa sem armas, mas também, o espírito do Karate, que era esvaziar o corpo de todos os desejos e vaidades terrenos. Com essa mudança, Funakoshi iniciou um trabalho de revisão e simplificação, pois ele também acreditava que os japoneses não dariam muita atenção a qualquer coisa que tivesse a ver com o dialeto interiorano de Okinawa. Por isso, ele resolveu mudar não só o nome da arte, mas também os nomes dos Kata. Ele estava certo, seus número cresceram mais ainda.

Gigo Funakoshi começou a introduzir a prática do Jiyu Kumite (“kumite livre”) e, com o apoio de Shigeru Egami e Genshin Hironishi, entre outros, desenvolveu novas técnicas.
Em 1939, concluiu-se a construção do dojo e, com 71 anos, Funakoshi abriu sua primeira escola própria de karate. O prédio foi feito com doações particulares, uma placa foi pendurada sobre a entrada e dizia: “Shotokan”, ou, escola de Shoto. “Sho” significa pinheiro, “To” significa ondas e “Kan” significa edificação. “Shoto” era o pseudônimo que Funakoshi usava nas suas caligrafias, pois quando ele ia escrevê-las se recolhia em um lugar mais afastado, onde pudesse buscar inspiração, ouvindo apenas o barulho do pinheiros ondulando ao vento. Esse nome, Shotokan Karate Dojo, foi uma homenagem de seus alunos.

Dojo Shotokan

Funakoshi era Taoísta, ensinava Clássicos Chineses, como o Tao Te Ching de Lao Tzu, enquanto vivia em Okinawa. Profundamente religioso, tinha muito medo de que o Karate se tornasse um instrumento de destruição e queria eliminar do treinamento algumas aplicações mortais dos Kata. Então, ele parou de fazê-las. Ele também começou a desenvolver estilos de luta que fôssem menos perigosos. Funakoshi teve sucesso ao remover do Karate técnicas de quebras de juntas, de ossos, dedos nos olhos, chaves de cotovelo, esmagamento de testículos, criando um novo mundo de desafios e luta em equipe, onde, somente umas poucas técnicas seriam legais. Ele fez isso baseado nos seus propósitos e com total conhecimento dos resultados.

A necessidade de um treinamento nas artes militares estava em crescimento. Jovens estavam se amontoando no Dojo, vindos de todas as partes do Japão. O Karate foi beneficiado pelo militarismo e, como resultado, estava desfrutando de uma aceitação acelerada .

Porém, o Japão cometeu um grande erro. O bombardeio das forças navais americanas em Pearl Harbor a 7 de Dezembro de 1941 foi algo além da conta. Numa tentativa de prevenir que as embarcações americanas bloqueassem a importação japonesa de matéria-prima, os japoneses tentaram remover a frota americana e varrer a influência Ocidental do próprio Oceano Pacífico. O plano era bombardear os navios de guerra e os porta-aviões que estavam no território do Hawaii. Isto deixaria a força da América no Pacífico tão fraca que a nação iria pedir a paz para prevenir a invasão do Hawaii e do Alasca. Infelizmente, o pequeno Japão não tinha os recursos, força humana, ou a capacidade industrial dos Estados Unidos. Facilmente, os americanos destruíram completamente os japoneses na Ásia e no Pacífico.

Infelizmente, uma das vítimas dos ataques aéreos foi o Shotokan Karate Dojo que havia sido construído em 1939. Com a América exercendo pressão em Okinawa, a esposa de Funakoshi finalmente iria deixar a ilha e juntar-se a ele em Kyushu, no Sul do Japão. Eles ficaram lá até 1947.

Os americanos destruíram tudo que estava em seu caminho. As ilhas foram bombardeadas do ar, todas as cidades queimadas até o fim, as colinas crivadas de balas pelos cruzadores de guerra, então, as tropas varreram através da ilha, cercando todo mundo que estivesse vivo. A era dourada do Karate em Okinawa tinha acabado. Todas as artes militares haviam sido banidas rapidamente pelas forças ocupantes americanas.

Primeiro uma, depois outra bomba atômica explodiram sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki. Três dias depois, eram tantos bombardeiros americanos sobrevoando Tokyo, que chegaram a cobrir o Sol. Tokyo foi bombardeada com dispositivos incendiários. Descobrindo que o governo do Japão estava a ponto de cometer um suicídio virtual sobre a imagem do Imperador, cartas secretas foram passadas para os japoneses garantindo sua segurança se eles assinassem sua “rendição incondicional”. O Japão estava acabado, a Guerra do Pacífico também, mas o pesadelo de Funakoshi ainda havia de acabar.


Yoshitaka

Então, Gigo (também conhecido como Yoshitaka, dependendo como se pronunciasse os caracteres do seu nome), filho de Funakoshi, um promissor jovem mestre de Karate no seu próprio direito, aquele em quem Funakoshi estava contando para substituí-lo como instrutor do Shotokan, contraiu tuberculose e teimosamente recusava-se a comer a ração americana dada ao povo faminto, sua saúde se complicava cada vez mais.

No dia 10 de Março de 1945, ocorreu o mais intenso bombardeamento de Tóquio pelas tropas aliadas. O Shotokan e a residência de Funakoshi O-Sensei foram completamente destruídos. Poucos meses depois, em Novembro, Yoshitaka Funakoshi Sensei, com apenas 39 anos de idade faleceu. Acabou sucumbindo não só à doença respiratória, mas também, à tremenda dor que a destruição da obra de seu pai lhe provocara. Desde 1934 Yoshitaka Funakoshi Sensei vinha numa evolução verdadeiramente excepcional no domínio do desenvolvimento da arte que o seu pai lhe ensinara. O jovem Gigo, consciente de que a tuberculose não lhe permitiria uma vida longa, empenhara-se de alma e coração no desenvolvimento da arte que aprendera de seu pai:

No Kihon (fundamentos ou técnica de base) não só transformou todas as posições originais, baixando o centro de gravidade e aumentando a fluidez e a amplitude, como introduziu novas posições de base, adotando ainda pontapés desconhecidos (ou esquecidos) do Okinawa-te. (Yoko-geri, Mawashi-geri e Ushiro-geri ).

Nos Kata’s (formas de base) efetuou, encorajado por seu pai, visitas a vários Mestres de Okinawa recolhendo variantes de Katas conhecidos e outros virtualmente desconhecidos. (É o caso das variantes “curtas” (sho) dos katas Bassai e Kanku).

Finalmente, na área do Kumite (combate) introduziu métodos novos de combate, que logo captaram o entusiasmo dos praticantes mais jovens, com destaque para o jiyu-ippon kumite e o jiyu-kumite.(Estas formas, introduzidas respectivamente em 1934 e 1935, podem ser traduzidas como “combate semi-livre” e “combate livre”.)


Yoshitaka

Funakoshi e sua esposa tentaram viver em Kyushu, uma área predominantemente rural, sob a ocupação americana no Japão. Mas, em 1947, ela morreu. Funakoshi, então, retornou a Tokyo para reencontrar seus alunos de Karate que ainda viviam. Depois que a guerra havia acabado, as artes militares haviam sido completamente banidas. Entretanto, alguns dos alunos de Funakoshi tiveram sucesso em convencer as autoridades que o Karate era um esporte inofensivo. As autoridades americanas permitiram, apenas pelo fato de naquela época não terem idéia do que fôsse o Karate. Além disso, alguns homens estavam interessados em aprender as artes militares secretas do Japão, então as proibições foram eliminadas completamente em 1948.


Funakoshi em treino

Em Maio de 1949, os alunos de Funakoshi moveram-se para organizar todos os clubes de Karate universitários e privados numa simples organização e a chamaram de Nihon Karate Kyokai (Associação Japonesa de Karate). Eles nomearam Funakoshi seu instrutor chefe. Em 1955, um dos alunos de Funakoshi conseguiu arranjar um Dojo para a NKK.

Em 1957, Funakoshi já com 89 anos e uma vida cheia de experiência, nos deixava a lição mais importante. Expressa na história pelo modo que ele passou pelo Dojo principal de Jigoro Kano, o fundador do Judo. Caminhando pela rua, ele parou e fez uma pequena prece quando passou pelo Kodokan. E, se estivesse dirigindo um carro, ele tiraria seu chapéu quando passasse pelo Kodokan. Seus alunos não entenderam porque ele estaria rezando pelo sucesso do Judo. Ele explicou: “Eu não estou rezando pelo Judo. Eu estou oferecendo uma prece em respeito ao espírito de Jigoro Kano. Sem ele, eu não estaria aqui hoje”. Ele foi um professor de escola primária e um estudante de Karate. Com coragem, mudou-se para o Japão e trouxe o Karate consigo em 1922, dando ao Japão algo de Okinawa com seu próprio jeito pacifista. No processo, ele perdeu um filho, sua esposa, o prédio que seus alunos fizeram para ele, seu lar, e qualquer esperança de uma vida pacífica. Ele suportou uma Guerra Mundial que resultou em calamidade nacional, treinou seus jovens amigos e conheceu suas famílias apenas para vê-los irem lutar e serem mortos pelas forças invencíveis dos Estados Unidos. Ele viu o Japão queimar, os antigos templos e santuários serem totalmente aniquilados, bombardeiros enegrecerem o Sol, e viu como um pilar de fumaça negra subia de cada cidade no Japão e envenenava o ar que ele respirava. O Japão caiu da glória para uma nação miserável, dependendo de suprimentos de comida e roupas dos seus conquistadores. O cheiro da fumaça e dos mortos, os berros daqueles que foram deixados para morrer lentamente, o choro das mães que perderam seus filhos e esposas que nunca mais iriam ver seus maridos, o medo, o ruído ensurdecedor dos B-29′s voando sobre sua cabeça aos milhares, os clarões como os de trovões por todo o país quando as bombas explodiam em áreas residenciais, os flashes de luz na escuridão, a espera no rádio para poder ouvir a voz do Imperador pela primeira vez, somente para anunciar a rendição, a humilhação de implorar comida aos soldados… os intermináveis funerais e famílias arruinadas e lares destruídos…

Gichin Funakoshi, o “Pai do Karate Moderno”, faleceu no dia 26 de abril de 1957. Pouco antes disso, disse: “Acho que começo a entender o que é um verdadeiro soco.”

Em seu túmulo negro, em forma de cruz, estão as palavras “Karate Ni Sente Nashi” (No Karate não existe atitude ofensiva).

“As vezes à noite quando a lua era cheia ou quando o céu estava tão claro que se podia ficar sob uma cobertura de estrelas. Nessas ocasiões, se por acaso também houvesse um pouco de vento, podia-se ouvir o farfalhar dos pinheiros e sentir o profundo e impenetrável mistério que está na raiz de toda a vida.”

“Para mim, o sussurro era uma espécie de música celestial.”

“Depois de uma prática intensa de Karatê-Dô, não tinha coisa melhor do que sair e perambular sozinho.”

“Então, quando estava na faixa dos meus vinte anos e trabalhava como professor em Naha, seguidamente me deslocava a uma ilha comprida e estreita na baía, que ostentava um parque natural esplêndido chamado Okunoyama, com pinheiros soberbos e um lago enorme de lótus. A única construção na ilha era um templo zen. Aqui também eu costumava vir com freqüência para caminhar sozinho entre as árvores.”

“Por aquela época eu já praticava Karatê-Dô há alguns anos, e á medida que aprofundava meu conhecimento da arte tornava-me mais consciente de sua natureza espiritual. Usufruir minha solidão enquanto ouvia o vento assobiando por entre os pinheiros era, me parecia, um modo excelente de alcançar a serenidade da mente que o Karatê-Dô exige.”

Mestre Gichin Funakoshi

Masatoshi Nakayama

Mestre Nakayama nasceu em 1913, em Kanazawa, no Japão. Descendente de uma família de samurais, desde cedo se dedicou à prática de kendo, judo, natação e mais alguns esportes em Taiwan, onde cresceu e estudou. Como seu avô e seu pai eram médicos, havia uma expectativa de continuidade na família, porém ele tinha grande interesse em estudar sobre a história e o idioma da China. Em segredo, se matriculou na Universidade de Takushoku, em 1932. Pretendia manter seu treinamento de Kendo, mas havia se enganado com o horário e quando chegou ao dojo, encontrou a equipe de karate treinando com o Mestre Funakoshi, ficou imediatamente fascinado e esqueceu completamente do Kendo. Nessa época, fazia pouco tempo que Sensei Funakoshi lecionava na universidade e estava numa fase muito ativa. Os treinos eram extenuantes, consistiam em 50 a 60 repetições do mesmo kata e mais 1000 golpes, em média, no Makiwara. Apenas 10%, aproximadamente, dos alunos duravam mais de seis meses. A geração de Nakayama, no entanto, havia se formado praticando kendo e judô, portanto estavam acostumados aos confrontos com antagonistas reais.

Em 1937, concluiu seus estudos e foi para Pequim se aperfeiçoar ao mesmo tempo que estudava os sistemas chineses de combate com “A Arte dos treze kempos”. Se interessou pelos golpes com chutes e em 1946 voltou ao Japão, a fim de ensinar esses sistemas aoas japoneses.

Quase imediatamente após o término da guerra, os antigos alunos de mestre Funakoshi se reuniram para reestabelecer os treinamentos e reestruturarem o Dojo Shotokan. O objetivo desta reunião era também a construção de uma grande e forte organização. Em 1949, Nakayama fundou a Japan Karate Association ( comumente chamada JKA ). Uma instituição oficialmente organizada, a partir do NIHON KARATÊ KIOKAI e, reconhecida mundialmente. Tendo mestre Funakoshi sido nomeado instrutor emérito principale, Professor Masatoshi Nakayama, reconhecido pela excelente capacidade administrativa, recebido o encargo da elaboração de programas técnicos e da nova instituição. Em 1955, a JKA foi oficialmente incorporada como corpo educacional do Ministério da Educação.

Foi Nakayama quem mais impulsionou o kumite livre, incorporando várias técnicas de pernas como variações das técnicas básicas. Como professor e diretor de Educação Física na Universidade de Takushoku (também conhecida como Takudai), Nakayama foi o pioneiro no desenvolvimento do Karate Shotokan por meios científicos. Foi o mestre que escreveu mais livros (entre eles a série Best Karate), fez filmes didáticos e ministrou seminários pelo mundo inteiro, o que fez dele a maior e mais renomada autoridade no Karate Shotokan.

Mestre Nakayama faleceu em 1987, tendo cumprido seu objetivo de expandir o Karate internacionalmente, e tornando a Nihon Karate Kyokai uma das mais respeitadas organizações de Karate de todo o mundo

Hidetaka Nishiyma 9º Dan

Hidetaka Nishiyama nasceu em Tokyo, em 1928. Ele começou seu caminho nas artes marciais aos 5 anos de idade, através do Kendo, no qual obteve a graduação Sandan aos 16 anos.

Em 1943 descobre o Karate no Dojo dirigido por Gichin Funakoshi. Nessa época Funakoshi estava com 74 anos e Nishiyama com apenas 15!

Em 1945, Nishiyama entra na Universidade de Takushoku, famosa pelo seu Dojo de Karate. Um ano depois obtém a graduação Shodan e em 1948 obtém a graduação Nidan. No ano seguinte torna-se capitão da equipe de Karate dessa instituição.

Em 1949 é criada a “Japan Karate Association” (Nihon Karate Kyokai). Masatoshi Nakayama e Hidetaka Nishiyama são membros do corpo diretor.

Em 1950 obtém a graduação Sandan ao mesmo tempo em que é co-fundador da “All Japan Collegiate Karate Association”, sendo eleito como primeiro diretor.

Em 1951 recebe seu diploma em Ciências Econômicas.

A primeira viagem de Nishiyama aos Estados Unidos se dá em 1953, quando se torna um dos instrutores da “Strategic Air Command”, ensinando Karate nas bases militares americanas.

Nishiyama é nomeado diretor da “Japan Karate Association”. Em 1955, a organização é remanejada sob o impulso de Nakayama e de Nishiyama que surgem assim como co-fundadores da “nova” JKA.

Em 1960 publica, em colaboração com Richard C. Brown, o famoso livro “The Art of Empty Hand Fighting”, que logo se tornaria um best seller do gênero. Pouco depois, decide instalar-se na California, onde funda, em 1961, a “All America Karate Federation”. No mesmo ano, organiza o primeiro campeonato americano de Shotokan, surgindo como o grande pioneiro desse estilo fora do Japão.

Em 1965, Nishiyama organiza um encontro entre uma equipe japonesa do “All Japan Collegiate Federation” e uma equipe americana. Entrevê, já, a criação de um Campeonato Mundial de Shotokan. Em 1975, Nishiyama organiza, em Los Angeles, seu próprio Campeonato Mundial, sob a égide de uma nova federação, a “International Amateur Karate Federation”.

Sua grande dedicação e busca pela perfeição o fez continuar seus estudos na Universidade de Takushoku.

Hidetaka Nishiyama, por quase 50 anos, tem sido o grande promotor e seguidor do Karate e o responsável pela popularidade de que hoje esse Karate desfruta.

Atualmente, Mestre Nishiyama é o Chairmain da ITKF.

O mestre Nishiyama fez os estatutos da (NIHON KARATÊ-DÔ KYOKAI), e atualmente é do Conselho que se chama “Rigi” – Conselho Diretor – que em japonês significa uma reunião que define a conduta da própria (NIHON KARATÊ-DÔ KYOKAI). Hoje a ( JAPAN KARATÊ ASSOCIATION ), (NIHON KARATÊ-DÔ KYOKAI), é a maior e mais forte organização exportadora de técnicas de Karatê-Dô da escola Shotokan no mundo. Entidade que gerou e mantém em seus quadros os grandes difusores do Karatê-Dô moderno, independente de organizações cartorárias e federativas:

Esta organização (JKA) é oficialmente autorizada pelo Ministério da Educação Japonesa. A Japan Karate Association em 1994 anunciou a formação da Federação Mundial da JKA para estabelecer ajuda e assistência entre TODAS as nações através do Karatê-Dô.